Os agentes da Polícia Rodoviária Federal que atuam em Sorriso são os primeiros de Mato Grosso a receber câmeras nas fardas e nas viaturas. Em fase de testes desde a semana passada, o período de avaliação pode durar até 150 dias, ou seja, aproximadamente cinco meses. Para nossa reportagem, o superintendente da PRF, Arthur Nogueira, explicou que o município foi escolhido por reunir a maior quantidade de particularidades – variedade de crimes – observadas pela PRF diante das demais outras seis delegacias que a corporação possui no Estado.
“Cada local tem uma peculiaridade diferente, desde o clima, quantidade de efetivo, do registro de ilícitos. Se pegar a região de fronteira, como Cáceres e Pontes e Lacerda, tem uma realidade, Cuiabá e Primavera do Leste, por exemplo, são outras realidades. Então, no mesmo Estado, temos sete delegacias e cada uma tem sua peculiaridade, e a de Sorriso é a que unifica todas essas peculiaridades. Lá tem tráfico de drogas, crimes ambientais, trabalho escravo, roubo, furto de veículos e fluxos de carga indo para o Pará por conta da produção da região. Além de um índice de acidente muito grande. Então, definimos Sorriso”, contou.
Nogueira explicou que o grande objetivo do projeto é escolher o equipamento mais adequado e que seja capaz de suprir as necessidades e peculiaridades de todos os estados que irão implementar o projeto. Além disso, nesta fase, será estabelecida uma espécie de ‘manual’ para o uso da tecnologia.
“O objetivo do teste é a escolha do equipamento e como sistematizar o uso. Como nós já temos os manuais para todas as áreas em que atuamos, para essa não seria diferente. Então, no manual de operação das câmeras terá o passo a passo, desde o momento em que o agente chega para assumir o plantão e como ele deve proceder para receber esse equipamento, como tem que estar instalado, como ele vai utilizar, o que ele tem que fazer até o final do plantão. Com isso definido, vamos começar por onde? Todo o Brasil vai utilizar ou só os estados testados? Então, tudo isso será definido neste período de até 150 dias”, expôs à reportagem.
Além do município mato-grossense, outras quatro cidades de quatro estados do país também estão em fase de testes. São elas São José (SC), Uberlândia (MG), Cascavel (PR) e Araguaína (TO). Cada região foi escolhida por possuir características distintas, que faz com que os equipamentos sejam testados em climas e circunstâncias diferentes.
“A gente quer um equipamento que esteja na viatura e no colete policial que poderá atender qualquer deslocamento, faça chuva, faça sol. Primeiro, vai definir se o equipamento funciona e qual equipamento atende a necessidade, porque é uma polícia federal, e a compra é feita para todo o Brasil”, pontuou.
Nogueira contou que, inicialmente, houve resistência de alguns agentes, mas, conforme as dúvidas foram sanadas, o incômodo se dissipou.
“Inicialmente, há sempre uma resistência porque vêm aquelas dúvidas. ‘Vou ficar 24h sendo monitorado?’ Eu não estou no BBB’. Então, há essa resistência inicial, quando se dá o conhecimento da formatação do projeto, os agentes entendem que é necessário dar credibilidade. Como a polícia é voltada para a cidadania, Sorriso recebe bem isso, as pessoas estão lá para contribuir com o projeto”, disse.
O chefe da PRF em Mato Grosso acredita que as câmeras serão benéficas tanto para os agentes quanto para a população. Segundo ele, o equipamento acaba inibindo comportamentos equivocados, seja do policial ou do cidadão abordado.
“Muitas vezes, você aborda o cidadão e ele está estressado e quer descontar no policial. Ele não reconhece o erro numa simples infração de trânsito. Então, imagina uma abordagem em algum tipo de crime? Muitas das pessoas que a gente vai fazer a detenção ou abordagem já vem instigando o agente a ser truculento, tem até casos de xingarem o policial ou cuspirem na cara.
A câmera vai inibir esse comportamento ou se não inibir, vai comprovar que existiu a provocação e o policial precisou agir daquela maneira e conforme nossos manuais. Porque se cai uma imagem nas redes sociais só do cara caído no chão e policial tendo que pisar na perna ou na cabeça para algemá-lo, o que acontece? Aquela imagem choca, e dizem que o policial está abusando da autoridade, mas não viram o que aconteceu antes, que foi preciso fazer aquilo para segurança de todos que estão à volta. Tudo isso, o uso da câmera pode contribuir”, opinou.
Por fim, Arthur Nogueira se mostrou favorável à implementação de câmeras nas fardas e afirmou que é um caminho sem volta e que poderá influenciar até mesmo outras polícias a adotarem o equipamento. Ele contou que usou a tecnologia durante três anos e meio em um grupo de fiscalização e nunca teve problemas.
“Na minha visão, é um caminho sem volta, porque, querendo, ou não, hoje, aonde quer que você vá, você está sendo filmado. Eu sou favorável ao uso e já usei quando operei e tinha minha câmera. Nunca tive problemas porque a câmera é preventiva. Quando eu fazia a abordagem, já dizia que a pessoa estava sendo filmada. Evitava o estresse. Trabalhei três anos e meio em um grupo de fiscalização e não tivemos nenhum tipo de problema”, concluiu.