A médica Sthefane Chaveiro Saldanha realiza, semestralmente, exames de imagem nas mamas desde os 27 anos. Em janeiro deste ano, a anestesiologista havia realizado os testes e os resultados mostraram-se normais. Entretanto, em julho, foi detectado um nódulo de 1,9 centímetros na mama esquerda e, em seguida, foi constatado o câncer. Após o choque inicial, a médica passou a compartilhar nas redes vídeos sobre sua rotina de tratamento, assim como dicas de alimentação e exercícios físicos para outras mulheres que estão passando pela quimioterapia.
A profissional destaca que foi procurada por outras pacientes, batizadas de “oncoamigas”, e que isso motiva uma troca de vivências e construção de comunidade entre elas com um suporte para os momentos desafiadores.
“Eu acho que essa parte de você compartilhar as experiências faz muito bem. Veio uma mulher falar comigo e ela também é médica. Ela falou assim, ‘olha, eu estou passando pelo mesmo tratamento’. Ela está começando a se expor no Instagram dela. E aí ela falou que está sendo boa para ela essa exposição. Ela estava muito escondida, estava com muito medo, se isolando. Então, eu acho que essa exposição é muito legal”, avalia a médica.
A anestologista possui um histórico familiar que conta com vários casos de câncer de mama. Assim, ela recebeu uma indicação para o acompanhamento semestral. Sua avó teve a doença aos 34 anos, a mãe aos 38 e sua tia materna foi diagnosticada aos 46. A médica comenta que a maneira com que encarou o diagnóstico é diferente da forma que se lembra da reação da mãe.
“Eu tive casos sérios da minha mãe, da minha tia, então eu presenciei muito esse momento delas. Eu lembro muito da minha mãe, ela optou por se isolar. Eu acho que eu senti isso. Por exemplo, eu nunca vi ela careca no tratamento dela”, recorda.
Nesse sentido, ela destaca que foi importante assumir a falta de cabelo, pois foi como se sentiu mais confortável.
“Eu optei por estar careca, eu não uso peruca, não uso lenço. Eu saio careca. E eu acho que cada um lida de uma forma. Então, assim, essa foi a forma com que ela lidou, que ela teve ali as ferramentas dela. E eu estou tendo outras. Eu estou conseguindo me expor. E quando eu me expus no Instagram, foi tão bom. Eu me senti aceita. Depois fui vendo que estou ajudando outras pessoas”, relata.
O câncer foi descoberto em um estágio precoce, o que permite grandes chances de recuperação. A anestesiologista já completou 11 sessões, das 16 totais de quimioterapia. Ela relata que o nódulo desapareceu na terceira sessão.
“Foi um diagnóstico extremamente precoce, mas não me poupou de um tratamento oncológico. Contudo, está poupando a minha vida. Então, as chances de cura são altíssimas. O meu tratamento é curativo, o meu tratamento é para curar”, afirma confiante.
A médica ainda alerta as mulheres sobre importância de se tocar, observar o corpo e fazer consultas periódicas.
“Procurar, não ficar esperando as coisas, sabe? Sentir, se tocar. Eu, engraçado, que só fui sentir o nódulo depois do diagnóstico. Você vê, eu, médica, apalpei e achei que não fosse nada. A gente acaba negligenciando muitas coisas. A maioria das mulheres que descobre, descobre se tocando. Com a minha mãe foi assim, com a minha tia foi assim. Então, é se tocar, sentir seu corpo e ir atrás, sabe? Procurar ajuda. Eu acho que essa é a mensagem desse Outubro Rosa e que deve ser para todos os outros meses”, incentiva a médica.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que 73.610 novos casos de câncer de mama sejam registrados até 2025, com uma taxa de 66,54 diagnósticos a cada 100 mil mulheres. A maioria dos casos, entretanto, não é pela mutação hereditária como a de Sthefane e sua família, que têm variação no gene BRCA1 e BRCA2, ocasionando a predisposição para desenvolver a doença.
“Está presente entre 5 e 10% da população. Uma porcentagem baixa. Então, significa que 90% a 95% dos cânceres de mama estão relacionados a hábitos de vida. Obesidade, sobrepeso, consumo de álcool, cigarro são fatores modificáveis. A genética não é modificável, mas 90% dos casos são modificáveis. Então, levar uma vida mais saudável, mudar os hábitos, isso é importante também”, alerta a paciente.