Luciana Aparecida Vieira de Brito, 46, cresceu e chegou à faculdade ouvindo essas e outras frases similares da mãe, dona Francisca Vieira, uma costureira em Tangará da Serra (240 km a Noroeste de Cuiabá).
Ela veio para Cuiabá, fez faculdade de Fisioterapia e retornou para casa com o diploma e a disposição para trabalhar em sua área de formação. Logo se tornou a “doutora Luciana”, como a mãe queria, e trabalhou por quase 15 anos gozando de confiança e reconhecimento profissional.
Chegou a ser proprietária de uma clínica com 10 fisioterapeutas. Entretanto, poucos sabiam que aquela profissional, vista de fora como uma mulher de sucesso, não estava bem.
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A marca “Comadre” trabalha a comunhão em família e embeleza os ambientes dos lares
“A clínica não apresentava resultados e eu não queria continuar atuando na área. Trabalhávamos muito. Dava para pagar todos que trabalhavam comigo e as outras despesas, mas, no final, não me sobrava nada”, diz.
“Tive depressão e cheguei a entrar na menopausa precocemente. A cada dia, me sentia menos viva e mais infeliz “, relembra.
Até que, em 2014, poucos dias antes do Natal, durante uma viagem com o marido, o arquiteto Luciano, e os filhos Maria Clara e Pedro, ela descobriu que queria ser costureira, como a mãe.
Luciana conta que andavam em um shopping e pararam em uma banca de livros e revistas. Minutos antes, o marido a havia perguntado o que queria de presente de Natal, mas ela não respondeu de imediato.
Na banca, porém, seus olhos, como imã, fixaram no anuário de patchwork, ou seja, uma revista sobre costura com retalhos. “Quero essa”, apontou. “Vou ser costureira”, sentenciou.
Contra a vontade, o marido atendeu seu pedido.
Ela ainda o fez presenteá-la com uma máquina de costura com uma diversidade de pontos decorativos. Sabendo do sofrimento emocional da esposa, em tom de brincadeira, ele comentou: “Agora, sim, enlouqueceu de vez”.
“Cada página que eu virava daquela revista, me sentia renascendo… – (pausa na entrevista pela emoção que toma conta e embarga sua voz) – …tamanhos eram a certeza e o encantamento”, relata.
Tudo que experimentou nas páginas da revista, conta, a fez voltar à infância e às férias da faculdade. “Na infância, eu ia para o ateliê assistir à minha mãe costurar e mexer com os pedaços de tecidos”, narra, emocionada.
Já adulta, chegava de férias e corria para o ateliê para cheirar os tecidos. “Eu sentia saudade do cheiro enquanto estava em Cuiabá, fazendo faculdade. Deixava ir às baladas com os amigos para costurar durante as férias”.
De volta a Tangará da Serra, com a revista e a máquina de costura, Luciana começou pela produção de jogos americanos. Costurava em casa como atividade paralela, até fechar a clínica e abandonar de vez a profissão de fisioterapeuta.
Ela criou a marca “Comadre”, em homenagem à mãe, pois era assim que dona Francisca e as amigas se tratavam na cidade. Dona Francisca achou, assim como o marido de Luciana, uma loucura a filha abandonar a profissão de “doutora’ para ser costureira.
Foi expressamente contra, mas viveu mais alguns anos para ver o início do sucesso e a felicidade da filha exercendo a profissão da qual tanto tentou afastá-la.
Mas, no caso de Luciana, não como a mãe, uma modista convencional, que embeleza pessoas. A marca “Comadre” trabalha a comunhão em família e embeleza os ambientes dos lares.
Dos jogos americanos passou para mesa posta completa, toalha, guardanapos, entre outras peças, criando uma linha que hoje tem mais de 50 produtos comercializados na loja “Comadre”, aberta em uma das principais avenidas de Tangará da Serra.