Dante de Oliveira, 54 anos, fecha os olhos pela última vez e a democracia brasileira perde um de seus grandes vultos.
Transcorridos 17 anos de seu adeus, uma legião de liderados sente sua ausência.
Em sua trajetória, o mato-grossense Dante de Oliveira – o Homem das Diretas – venceu muitas lutas, até que tombou vítima da traiçoeira doença chamada diabete. dos olhos do povo, Dante de Oliveira travava uma guerra permanente contra um inimigo que corria silencioso em suas veias: diabetes.
Na manhã de 6 de julho de 2006, o Homem das Diretas entrou caminhando e cumprimentando as pessoas no Hospital Jardim Cuiabá, em Cuiabá, em busca de atendimento. Seu quadro de saúde agravou-se rapidamente.
Durante 12 horas, uma equipe lançou mão de todos os recursos possíveis na tentativa de salvá-lo; tudo em vão.
A frieza do comunicado médico revelou que o paciente perdera a luta contra uma infecção generalizada, causada por pneumonia agravada com agudo quadro de diabetes.
Mato Grosso perdeu o convívio com a lucidez democrática de seu filho mais conhecido no Brasil, mas herdou o legado de uma das figuras mais respeitadas no mundo político nacional nas últimas décadas: Dante de Oliveira.
O corpo de Dante de Oliveira foi velado no saguão da Assembleia Legislativa e sepultado, com honras militares, no Cemitério da Piedade, em Cuiabá.
Seu velório reuniu figuras de todas as regiões de Mato Grosso e políticos de outros estados, inclusive, o vice-presidente da República, José Alencar.
No sepultamento, uma multidão entoou a Canção da América, de Milton Nascimento.
Dante de Oliveira nasceu em Cuiabá, no dia 6 de fevereiro de 1952.
Era filho de Sebastião de Oliveira, o Doutor Paraná, ex-deputado constituinte estadual no pós-ditadura Vargas, e de dona Maria Benedita de Oliveira.
Deixou a viúva Thelma de Oliveira, ex-deputada federal pelo PSDB e, posteriormente, prefeita de Chapada dos Guimarães.
Dante de Oliveira iniciou sua trajetória na vida pública em 1976, ano em que se candidatou, mas não conseguiu eleger-se vereador pelo MDB de Cuiabá, ficando na suplência da bancada emedebista, formada por Gilson de Barros, Odil Moura, João Torres e Aldísio Cruz.
O resultado não o esmoreceu. Ao contrário, injetou mais sangue político em suas veias e, dois anos depois, o eleitorado lhe outorgou mandato de deputado estadual pelo Manda Brasa, juntamente com Márcio Lacerda, Isaías Rezende, Paulo Nogueira, Roberto Cruz, Jalves de Laet e João Torres.
Em 1982, pelo PMDB, Dante de Oliveira elegeu-se deputado federal juntamente com os correligionários mato-grossenses Gilson de Barros, Márcio Lacerda e Milton Figueiredo e os governistas do PDS Jonas Pinheiro, Ladislau Cristino Cortes, Bento Porto e Maçao Tadano.
O PMDB e o PDS surgiram com o fim do bipartidarismo da Arena e Manda Brasa; o primeiro, na verdade, durante muitos ano,s foi a nomenclatura do velho MDB, cuja sigla recentemente foi retomada.
O mandato de deputado federal foi interrompido em dezembro de 1985 porque Dante de Oliveira elegeu-se prefeito de Cuiabá, em outubro daquele ano, e assumiu a prefeitura em 1º de janeiro de 1986.
Dante de Oliveira conquistou a prefeitura com 61% dos votos, mas permaneceu pouco tempo no cargo.
Em 28 de maio de 1986, afastou-se do cargo e o vice-prefeito coronel da reserva do Exército, Estevão Torquato (PMDB), o substituiu.
Com o afastamento, o Homem das Diretas trocava temporariamente o Palácio Alencastro pelo cargo de titular do recém-criado Ministério da Reforma Agrária e do Desenvolvimento Agrário, criado pelo presidente da República, José Sarney.
O ministério, ao invés de abrir portas a Dante de Oliveira, fechou até as janelas do PMDB para ele.
À época, nos bastidores, se dizia que o presidente regional do partido em Mato Grosso, Carlos Bezerra, costurou a fritura de Dante de Oliveira com José Sarney.
Essa fritura, na verdade, começou um ano antes, quando Bezerra praticamente impôs a candidatura de Dante de Oliveira a prefeito de Cuiabá, para evitar sua concorrência partidária na candidatura ao Governo em 1986 – pleito que foi vencido por Bezerra.
Em 1990, sem mandato e rompido com o PMDB, Dante de Oliveira disputou eleição para a Câmara dos Deputados, foi o candidato mais votado para o cargo em Mato Grosso, mas seu novo partido, o PDT, não alcançou quociente para ocupar cadeira.
Dois anos depois, pelo mesmo partido, elegeu-se prefeito de Cuiabá, mas interrompeu o mandato ao se desincompatibilizar para disputar e vencer a eleição para governador.
O Homem das Diretas deixou a prefeitura em 30 de março de 1994, sendo substituído pelo vice-prefeito, coronel da reserva do Exército, José Meirelles.
A vitória ao Governo foi massacrante. No primeiro turno, Dante de Oliveira recebeu 75% dos votos válidos, derrotando Osvaldo Sobrinho (PTB), que era vice-governador de Jayme Campos (PFL).
Quatro anos depois, filiado ao PSDB, tornou-se o primeiro governador reeleito democraticamente em Mato Grosso.
Naquela eleição, o Homem das Diretas recebeu 54% da votação em primeiro turno, batendo seu principal adversário, o então senador Júlio Campos (PFL e, agora, União Brasil).
Mais tarde, Júlio seria deputado federal, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e, em 2022, venceu a eleição para deputado estadual.
Em março de 2002, Dante de Oliveira transmitiu o Governo ao vice-governador e correligionário José Rogério Salles, para disputar mandato de senador, mas foi derrotado.
Dante de Oliveira recebeu 439.436 votos (19,84%) e os vencedores foram: Jonas Pinheiro (PFL – 612.200 votos) e Serys Slhessarenko (PT – 574.701 votos).
Naquele pleito, as cúpulas petista e pefelista se uniram em defesa do voto casado para Jonas e Serys, cartada que foi fatal e jogou por terra a candidatura do Homem das Diretas.
Quatro anos após a disputa ao Senado, Dante de Oliveira lançou-se candidato a deputado federal tucano, mas, em 6 de julho, foi derrotado pelo diabetes.
Sua mulher, Thelma de Oliveira, também tucana, assumiu a candidatura que seria do marido e se elegeu deputada federal.
IDEAL – Bolívia, 8 de outubro de 1967.
Num canyon em La Higuera, nos Andes, o capitão Gary Prado cercou o grupo armado do guerrilheiro “Ramón”, que liderava um levante contra o governo boliviano de René Barrientos.
Após intenso tiroteio, com uma perna ferida e a pistola emperrada, Ramón, o líder da guerrilha, rendeu-se e os militares descobriram sua identidade.
Era Che Guevara, o argentino que ajudou os irmãos Fidel e Raúl Castro a derrubarem Fulgencio Batista y Zaldívar e, em seguida, implantar o comunismo que lhes assegurou o governo vitalício em Cuba, com Fidel à frente, até sua morte em 25 de novembro de 2016, quando oficialmente estava aposentado, mas era quem dava as ordens
E Raúl, que comandou a Ilha de 24 de fevereiro de 2008 a 19 de abril de 2018, data em que a Assembleia Nacional de Cuba, órgão do único partido da ilha, o Comunista, elegeu por 603 dos 604 votos de seus membros o novo presidente, Miguel Díaz-Canel.
Vale observar que não houve voto contrário, e sim a ausência de um dos representantes, o que não permitiu a escolha por unanimidade.
A data da captura do guerrilheiro na Bolívia tornou-se emblemática para a esquerda latino-americana porque marcou o último lance da luta de Che Guevara, que no dia seguinte – após interrogatório – seria executado por uma rajada de metralhadora disparada pelo sargento Mário Terán, cumprindo ordem de La Paz.
Quando Che Guevara tombou, o continente estava em ebulição, dividido entre a direita e os defensores da cubanização.
No Rio de Janeiro, o Comitê Universitário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) transformou-se na Dissidência da Guanabara (DI-GB), descambando para a luta armada.
Os jovens da DI-GB reverenciavam a memória de Che Guevara.
Assim, nasceu o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), marxista-leninista, que fez proezas com armas, sendo a mais famosa o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick.
Em 1976, clandestino, o MR-8 abrigou-se uma das correntes do Manda Brasa que fazia oposição à Arena, de sustentação do regime de 1964.
Dante de Oliveira militava no MR-8, que conheceu nos meios universitários do Rio, onde formou-se em engenharia civil.