O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou o relatório final de investigação do acidente aéreo envolvendo um Embraer EMB-202A, ocorrido em abril de 2022 no município de Nova Bandeirantes, que vitimou Marcos Corte Gonçalves, de 32 anos, e Milton Avelino da Silva Neto, de 27. Segundo a investigação do órgão, não foi encontrado nenhuma intercorrência no motor e a hipótese principal é perda de controle de voo, possivelmente em decorrência de sobrepeso da aeronave que era certificada para levar somente um ocupante.
Conforme o relatório, os investigadores do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA), apuraram que se tratava de um voo de traslado entre o aeródromo de Nova Bandeirantes e uma fazenda, para posterior aplicação de defensivos na mesma propriedade rural. Segundo relatos de testemunhas que trabalhavam no local, antes do voo do acidente, a aeronave efetuou algumas aplicações de defensivos agrícolas no período da manhã, do nascer do sol até próximo do horário de almoço.
Ao finalizar a atividade, o piloto e o auxiliar de pista embarcaram juntos a bordo e decolaram da fazenda até o aeródromo, com a intenção de almoçar no município de Nova Bandeirantes. Ainda segundo terceiros, a aeronave, ao regressar ao aeródromo, teria efetuado duas “tentativas de pouso” na área para uso aeroagrícola. Ao executar o terceiro tráfego para uma nova “tentativa” de pouso, na curva após a decolagem, a aeronave perdeu o controle e colidiu contra o solo em região de mata fechada. Os dois faleceram no local.
Conforme os investigadores do órgão, testemunhas relataram que o motor da aeronave, ao realizar o terceiro tráfego para pouso, produziu um ruído diferente do normal, o que levou os investigadores a considerarem a hipótese de que houve uma perda de potência (imagem abaixo). Durantes as análises, os profissionais desmontaram o motor, sendo encontrado em um dos cilindros um vazamento anormal. Porém, apesar da constatação do vazamento, não se pôde concluir que estivesse presente antes do acidente.
Os profissionais também constataram que o indicador de pressão (imagem acima) da aeronave marcava, aproximadamente, 29 inHg, posição correspondente à de abertura total da borboleta servoinjetora. Adicionalmente, o indicador de rotação do motor foi encontrado travado próximo e 2.000 RPM, indicando que o motor não estava parado no momento do impacto. Por fim, os investigadores detalharam que não encontraram indícios de mau funcionamento, anormalidades ou discrepâncias nos componentes testados e analisados que pudessem ter comprometido o desempenho do motor.
Outro ponto levantado pela equipe, é que o auxiliar de pista Milton Avelino da Silva Neto tinha licença de voo privado e não possui licença agrícola. Já o piloto responsável possuía permissão, porém, os investigadores apuraram que o auxiliar ocupava o assento do piloto, “fato que suscita a hipótese de que poderia estar sendo conduzida uma espécie de “instrução de voo informal”, aponta trecho do relatório.
Ainda na investigação, é acrescentado que a operação da aeronave com dois ocupantes em uma cabine projetada e certificada para apenas um pode ter impactado, significativamente, a dinâmica do voo e a ergonomia na cabine. “Essa configuração atípica, provavelmente, resultou em uma sobrecarga do peso operacional máximo permitido para o tripulante, “além de uma alteração no Centro de Gravidade da aeronave, podendo ter afetado seu equilíbrio e sua estabilidade”, diz trecho do relatório.
Portanto, no relatório é citado que a condição de sobrepeso na cabine devido à presença de duas pessoas, associada à ausência de massa no tanque de produtos e ao consumo de combustível, “recuaram a posição do controle de gravidade, reduzindo a margem estática, podendo ter extrapolado o limite traseiro de 27% da CMA. Essa condição limítrofe de estabilidade, ou mesmo de instabilidade longitudinal, pode ter contribuído para uma provável perda de controle em voo”.
O órgão, por fim, sugere que a redistribuição de massa (peso) e a limitação do espaço na cabine podem ter dificultado o manejo adequado da aeronave e prejudicado o desempenho do piloto durante a operação de voo. “Os destroços da aeronave ficaram concentrados em uma pequena área e indicaram que a aeronave impactou contra o solo com baixa velocidade à frente e grande velocidade vertical, o que corrobora a hipótese de perda de controle em voo”.
O CENIPA esclarece que o único objetivo das investigações realizadas é a prevenção de futuros acidentes aeronáuticos e, o relatório final baseia-se em fatos, hipóteses ou na combinação de ambos. “O uso deste Relatório Final Simplificado para qualquer outro propósito poderá induzir a interpretações errôneas e trazer efeitos adversos à prevenção de acidentes aeronáuticos”, informa o órgão.
Outro lado
Em nota ao Só Notícias, a defesa da família do piloto Marcos Cortes informou quem em audiência na última sexta-feira foi questionado a tese de que ele estaria como copiloto na aeronave. “Quanto ao relatório final apresentado pela CENIPA, foi determinado em audiência expedição de ofício para que a mesma apresente o responsável técnico pelo laudo, bem como apresente resposta a alguns questionamentos levantados, tendo em vista que se tratando de laudo técnico o termo utilizado para chegar no Sr. Milton (auxiliar de pista) como piloto foi “SEGUNDO RELATOS”, relatos de quem? As testemunhas oculares, ouvidas em audiência, afirmaram que quem estava pilotando, sentado no banco do piloto e de frente para os controles era o Sr. Marcos, a disposição dos corpos nas fotografias, relatos no boletim de ocorrência e nas reportagens, indicavam que quem estava pilotando, era o Sr. Marcos, então como concluíram no relatório que era um terceiro? Quanto a ter duas pessoas na cabine, questiona se realmente o peso influenciou em algo, tanto que o que da a entender segundo ao relatório, é que qualquer pessoa em sobrepeso poderia colocar em risco a aeronave. De mesma forma questiona o motivo na qual os dois caíram somente na volta, sendo que foram com o avião pra cidade. Qual o motivo do barulho que a aeronave fez antes de cair, que a testemunha que aguardava na pista ouviu?”.
A defesa também argumentou o período de investigação. “Como ocorreu a retirada do avião lá? Como estava a aeronave quando a CENIPA foi realizar a vistoria, levando em consideração que somente 4 meses após o acidente tiveram acesso ao mesmo? Trata-se claramente de um acidente, que inclusive poderia ter ocorrido com um ocupante na aeronave, o que se faz necessária é a transparência em relação ao relatório apresentado. O que se busca é a realidade do ocorrido e que realmente o laudo apresentado seja técnico e não levantado por suposições”.