Lucas do Rio Verde - Dezembro 22, 2024

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De cidade Verde a cidade das pedras: Pesquisa da UFMT revela que apenas 26% da capital é arborizada e não cumpre diretrizes da OMS

Neste mês, Cuiabá registrou a segunda maior temperatura em 113 anos, chegando a 44,1°C

Por: Portal JVC / G1 MT

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(Autor da imagem: Portal JVC)

A capital é uma das cidades mais quentes do Brasil. Um exemplo mais recente desse cenário foi a sequência de recordes de temperatura registrada por seis dias consecutivos em agosto. Já neste mês, Cuiabá registrou a segunda maior temperatura em 113 anos, chegando a 44,1°C.
Conforme o livro ‘Verde Urbano’, escrito por Maurício Lamano, Alessandro Zabotto e Fernando Periotto, uma área de construção com árvores pode reduzir a temperatura em até 3°C.

A pesquisa mostra que a redução de florestas sem planejamento prévio, que acontece na capital, influencia na qualidade de vida da população e do ambiente local de forma negativa, pois as condições climáticas devem se agravar ainda mais ao longo do tempo.

Uma das pessoas afetadas com a falta de árvores e, consequentemente, com o aumento da temperatura é a pedagoga Rozineth Tereza dos Santos, que atua em uma creche na capital. Para ela, a ausência de áreas verdes é uma questão que resulta em problemas respiratórios e no desconforto causado pelo calor excessivo.

 “Sinto falta de ver árvores na cidade. Sem área verde fica muito sol e os telhados das casas ficam quentes, o que deixa tudo mais abafado. Até para dormir é ruim com essas altas temperaturas. O calor está cada vez mais insuportável. Quando você anda pela cidade é perceptível o quanto os prédios se multiplicaram. A gente quase não vê árvore, só asfalto e concreto”, enfatizou.
 
Para a engenheira florestal da UFMT, Jaçanan Eloisa, relatos como o de Rozineth têm se tornado cada vez mais frequentes entre os moradores de áreas com pouca arborização. Segundo ela, a situação começou a se intensificar nos anos 80, quando as árvores começaram a ser retiradas da cidade para que acontecesse o “boom” do crescimento urbano.

Como consequência da evolução urbana das cidades, a retirada da vegetação tem atingido em cheio a vida da população e dos animais que habitam as grandes cidades. Segundo a pesquisa, o perímetro urbano leva muito tempo para cultivar árvores, pois o ciclo de vida delas não é tão rápido quanto o das culturas agrícolas.

 “Os ciclos de vida [das árvores] são distintos de culturas agrícolas e florestais, muito em função do tipo de estrutura de cada uma. As árvores demoram mais, pois investem em altura e diâmetro. A alocação de recursos é diferente entre elas”, explicou.
 
A pesquisa revela ainda que as consequências mencionadas anteriormente são apenas a ponta do iceberg de um problema que pode se agravar progressivamente. Todas elas estão ligadas à mesma questão central:
 

🌳A PERDA DA BIODIVERSIDADE: acontece por causa da falta de planejamento urbano e diferentes níveis de ações humanas, como pecuária extensiva, urbanização, desenvolvimento de atividades industriais e mineradoras.
 
 ‘Cidades de pedra’
 
A urbanização desordenada é um dos principais fatores que levaram à substituição das áreas verdes pelas ‘cidades de pedra’. Um exemplo que ilustra isso é o número expressivo de construções de concreto e asfalto. O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, disse que o número expressivo de construções de concreto e asfalto deixa a temperatura ainda mais quente.

“Quando não tem arborização e a cidade se apresenta com concreto e cimento, ela fica quente porque ela retém o calor do sol. A partir do momento que tem arborização, tem dois efeitos: as áreas cobertas por vegetação contribuem para a diminuição do calor, então tem sombra e conforto térmico. Por outro lado, as áreas arborizadas soltam gotículas na atmosfera que caminham até 50 metros das árvores”, informou.

Por mais que gerem impulsionamento econômico, a multiplicação das ‘cidades de pedra’ é um problema socioambiental que tem criado o fenômeno das ilhas de calor — áreas urbanas que apresentam temperaturas significativamente mais altas do que as regiões próximas. Para Bocuhy, esse aquecimento excessivo não apenas afeta o conforto dos habitantes, mas também traz consequências para a saúde e o bem-estar da população.

“Cada árvore é um elemento que refrigera o entorno dela em pelo menos 50 metros, ou seja, quando você tem ilhas de árvores, você tem elementos que quebram o calor e permitem que a cidade tenha uma temperatura mais amena. É preciso trabalhar essa perspectiva de arborizar mais as cidades para ter mais conforto térmico”, contextualizou.
 
Além de todos esses problemas, um mapeamento realizado pela UFMT em 2019 mostra que algumas cidades de Mato Grosso possuem características de ocupação sem nenhum planejamento dos municípios, onde a vegetação foi extinta pela expansão e desenvolvimento urbano.
Em Rondonópolis, na região sul do estado, a situação é ainda mais crítica, já que possui apenas 8% da cidade com vegetação. Por outro lado, Sorriso, no norte de Mato Grosso, tem 29% da área arborizada.

A UFMT informou que a substituição da cobertura natural pelos materiais artificiais impermeáveis urbanos altera as propriedades físicas das superfícies e o balanço de energia. Nessas condições, as regiões urbanizadas detêm temperaturas do ar mais elevadas em comparação às áreas rurais.
 

Consequências da falta de árvores
 
As consequências desse fenômeno são diversas e não afetam somente a população das grandes cidades, mas também a sensação térmica e até mesmo a fauna e flora da região. Dentre elas, estão:

 🌳Degradação dos habitats naturais

♻️Processos naturais que reciclam os elementos químicos no meio ambiente (através do ciclo entre os seres vivos e o ecossistema).
 
🥵No ambiente urbano, as florestas são fundamentais no controle do microclima das cidades, pois a presença da vegetação é considerada uma solução econômica e viável para mitigar as consequências do aumento da temperatura.
 

Nem todas as árvores podem estar nas cidades
 
É de senso comum que pra se ter mais oxigênio e um clima mais fresco é necessário que mais árvores sejam plantadas, mas, antes disso, é de extrema importância estudar e planejar antes de agir. Isso é preciso porque, algumas árvores não são ideais para se plantar nos centros urbanos, seja pelo tamanho ou pela espécie. Para isso, Jaçanan fez recomendações específicas sobre tipos de árvores que podem trazer benefícios quando plantadas nas cidades e outras que não.
 
Somente plantar sem o planejamento não vai resolver o problema de Cuiabá e eu considero um despreparo não escolher as espécies adequadas que se adaptem a essa mudança do clima, explicou a pesquisadora

Espécies como mangueiras e figueiras, por exemplo, possuem raízes mais profundas, o que leva as calçadas a estourarem e prejudicam o encanamento pluvial. Além disso, a altura das árvores pode entrar em contato com os fios da rede elétrica.

O plantio de algumas espécies, chamadas de perenifólias – que mantém suas folhas –, dependem do espaço disponível para o crescimento e desenvolvimento. Além disso, elas oferecem vantagens como a melhoria da qualidade do ar, sombra constante e um ambiente mais fresco.

Segundo a pesquisadora, é necessário escolher espécies adequadas, compatíveis à vegetação nativa que sigam critérios adequados para que essas árvores se acostumem naquela região. Confira abaixo essas árvores: Espécies de árvores que podem ser plantadas nas cidades  1/5 Pau-pombo (Tapirira guianensis) é uma espécie de pequeno porte de alta dispersão no Cerrado, que pode medir de 8 a 14 metros de altura.
 
2/5 Jucá (Libidibia ferrea) é uma espécie de médio porte usada como planta forrageira, ornamental e para a construção civil, que pode medir de 3 a 10 metros de altura. 

Jornalista Valdecir Chagas

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