Prestes a completar 3 meses do assassinato de Ney Muller Alves Pereira, 42, a mãe da vítima, Iracema Alves Ferreira da Silva, revela que não recebeu qualquer amparo das autoridades ou ajuda psicológica para enfrentar o luto diante da perda do filho de forma cruel. O homem sofria com transtornos mentais e estava em situação de rua quando foi morto com um tiro na cabeça, na noite de 9 de abril deste ano, pelo procurador da Assembleia Legislativa (ALMT), Luiz Eduardo Figueiredo Rocha Silva. Mesmo afastado e preso, o procurador recebe normalmente salário de R$ 44 mil como servidor efetivo.
Em conversa com a reportagem, Iracema narra que continua extremamente abalada com a morte do filho e não passa um dia sequer sem pensar nele e na forma como foi morto. Um trauma que carrega há quase 3 meses e que não a deixará. A mãe de Ney alega que desde o acontecimento chegou a ir até a Casa de Leis em busca de apoio, já que o assassino do filho era servidor do local, contudo deixou de frequentar o local por não se sentir acolhida.
Emocionada, ela diz que não conseguiu tratamento psicológico até o momento, mas que tem recorrido à Defensoria Pública para buscar respaldo jurídico. Ela narra que ainda não se conformou com a morte do filho e acredita que não tenha sido ele o responsável por danificar o carro do procurador, já que, em sua visão, não faria sentido ele ir até o veículo quando chamado pelo condutor pela janela, se de fato tivesse feito os estragos no carro. O dano foi a motivação apresentada pelo procurador à polícia para justificar a atitude criminosa.
“Não tem sido fácil. Ele chamou meu filho. Eu vi o vídeo, ele chamou. Se fosse o meu filho que tivesse riscado o carro dele, ele não ia. Ele corria. O meu filho não era agressivo. Ele sempre ficava mais sozinho, não gostava de conversar. Ele chamou o meu filho e deu um tiro nele covardemente. O meu coração dói”, disse em meio às lágrimas.
“Ele premeditou, ele assassinou meu filho covardemente. Meu filho não tinha arma nenhuma. O meu filho estava em surto e quando ele ficava daquele jeito, ele saía andando. Fizemos tudo o que podíamos fazer por ele. Fiquei 1 ano e 5 meses com ele em Goiânia, tratando lá na casa de Eurípedes”, recorda.
De acordo com Iracema, a família aguardava o recebimento de uma pensão pela morte do pai de Ney, ex-policial rodoviário, para custear novo tratamento e internar o rapaz em uma instituição com suporte adequado. No entanto, a morte do filho veio antes que pudesse buscar o acompanhamento. Ela ainda narra a infeliz coincidência com o fato de ter pagado o plano funerário, que previa para si, sem esperar que o filho falecesse antes dela.
Enquanto o julgamento do réu não é marcado, Iracema se apega às memórias de quando o filho ainda estava bem e passa os dias vendo fotos antigas de bons momentos, apesar da dor constante que sente só por lembrar dele. Religiosa, tem buscado a Deus para encontrar forças e lutar por Justiça, já que agora vive para presenciar o julgamento. Uma audiência do caso está prevista para o próximo dia 8 deste mês.
A reportagem do procurou a assessoria da Assembleia Legislativa de Mato Grosso que comunicou que lamenta os fatos e desde o momento do crime se colocou à disposição da família, inclusive para acesso ao programa Qualivida, que oferece suporte médico e apoio psicológico aos servidores e seus dependentes.
Quanto ao salário do procurador, que mesmo preso segue recebendo mais de R$ 40 mil mensais, foi informado que a remuneração está em conformidade com a Constituição Federal. Mesmo afastado das funções, por se tratar de um funcionário concursado, é preciso aguardar os trâmites do processo administrativo disciplinar (PAD) para dar sequência a seu desligamento definitivo e assim interromper os pagamentos.